cozinha de afectos

A gastronomia não pode ser somente o sabor, mas sim tudo o que nela pode provocar. O palato provocado por um cheiro ou por uma emoção na construção de vínculos e afectos. Reatar com o passado através do sabor é criar um laço alimentar com o ADN.

Numa das minhas conversas para enriquecer o meu estudo, fortifiquei a paixão pelas minhas certezas ...

Aos 12 anos em Idanha, Rosa Vaz nascida sob o signo Leão no ano de 1944, começava a trabalhar como ama na casa maior desta aldeia, a casa Marrocos.

Ainda não é agora que vos vou falar desta família, embora tenha registos bonitos e saborosos.

D. Rosa Vaz, falou-me do Pai. Pastor da Família Marrocos e artesão (nas horas vagas), João Nunes Vaz “faria 100 anos se vivesse”, levava para merenda; pão na "bandoleira" (saco de pele para usar nas costas), queijo na "corna" (corno de vaca com rolha de cortiça), azeitonas na "cabaça"( pequena abobora) e, a água no barril de barro. Rosa conta em olhos semicerrados (como se estivesse a recordar) que era mais pão com azeitonas, " era o que o Pai gostava mais" retorqui-o.

"A minha mãe preparava tudo, era cozinheira e padeira na casa Marrocos" lembra D. Rosa.

Pela manhã o Pai de 5 filhos, antes de sair para levar o gado, comia um prato de sopa.

A mãe cozinhava sem ajuda das filhas ainda pequenas o Caldo da miga de batata com segurelha [pode ser provado no meu restaurante onde vou replicando essas delícias].

Deolinda De Nascimento Gonçalves, cozinheira de mão cheia, migava em pequenos cubos batatinhas descascadas e bringia em leve estrugido de cebola e alho picados, ao fogo acrescentava azeite e segurelha. O caldo que aquecia e trazia alento a João Vaz.

Mas, o Pastor, não ficava por aqui nesta cozinha de afectos, a emoção chegava através da voz embargada de carinho da filha.

A mãe á tardinha preparava a ceia num alguidar que levava na cabeça e a pé com os filhos e mais novo na cesta, ia pernoitar com o seu marido ao campo na "Choça" (casina de pastor), " eram outros tempos" carrega na memória a segunda filha do casal.

Quando chegavam já o pai tinha feito lume no chão de palha, " era grande fogo" diz a sorrir. Do alguidar todos partilhavam o alimento sem ordem nem hierarquia, eram uma festa, antes da ceia rezavam, o Pai dizia "...pelas almas. seguido do Pai nosso e Avé Maria.

O Pai nunca comia sozinho, fosse Verão ou Inverno!

D.Rosa com ar sereno e feliz manda novamente o passado para hoje em tom alegre; "nós líamos as histórias dos livros da escola aos meus pais depois do jantar, eles não sabiam ler. Tive uma infância boa, os meus pais... eram boas pessoas! "

Fotografias, gentilmente cedidas pela filha mais nova.

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Dióspiro com Feta

Inspirada na mitologia grega, o alimento de Zeus, brindo-vos com mais uma das minhas receitas; Lava sem magoar este fruto tão especial. Corta os topos do dióspiro e reserva. Com uma colher de chá retira o interior (scoop) e reserva numa tigela, junta ao puré de diospiro, mel, amêndoas, vinagre balsâmico e queijo feta (eu prefiro com feta pois considero o queijo dos deuses), e carinhosamente mistura muito bem, prova e adoça a gosto. Com a vareta acaricia a mistura, e pensa na festa. Usa a mistura para encher (refill) os diospiros e deixa descansar por 30minutos. O empratamento fica a teu gosto. Excelente para vegetarianos e neste Natal surpreende, esta seria a entrada de Natal no meu restaurante para os vouchers que vinham a caminho ♡

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