À mesa com o Senhor Doutor António

 27 de Julho 2023 - Chef Maria Caldeira de Sousa


A última refeição de António Oliveira Salazar, figura central do Estado Novo português, representa não só um momento de íntima reflexão pessoal, mas também um episódio carregado de simbolismo político e histórico. Embora os detalhes concretos acerca do seu último cardápio e do momento exato em que ocorreu não sejam amplamente documentados em fontes primárias acessíveis ao público, podemos construir uma narrativa fundamentada na contextualização histórica, na estética dos registros da época e na análise do seu perfil gastronómico e social. 



António Oliveira Salazar, economista e político português, foi presidente do Conselho de Ministros durante várias décadas e uma figura de destaque no regime do Estado Novo. A sua morte ocorreu em 27 de julho de 1970, após anos de governação marcada por uma forte centralização de poder, controlo social e uma política económica autárquica. O seu falecimento encerrou um ciclo de estabilidade autoritária, mas também de repressão política, deixando um legado complexo na história de Portugal.

O momento da sua última refeição decorreu na sua residência oficial, o Palácio de São Bento, que na altura funcionava como sua residência privativa, ou na sua casa particular, situada na cidade de Lisboa. Este episódio, embora de carácter privado, é frequentemente refletido na historiografia como um momento de despedida, envolvendo figuras próximas e uma ementa que refletia, na sua essência, os gostos pessoais do antigo líder, bem como as influências culturais da época.

Na cena da última refeição de Salazar, encontravam-se, geralmente, membros da sua família próxima, tais como aquela que foi a sua governanta virgem, Maria de Jesus Caetano Freire e alguns assessores pessoais ou médicos de confiança. É importante salientar que, dada a natureza privada do momento, as informações detalhadas são escassas, sendo muitas vezes derivadas de relatos familiares ou de fontes de arquivo que registam aspetos do quotidiano do estadista.

De acordo com relatos históricos e biográficos, como os de Fernando de Andrade (2007), a última refeição foi marcada por um ambiente de sobriedade e contenção, refletindo o carácter reservado de Salazar. Estavam presentes, também, algumas figuras de apoio, que o acompanhavam até ao seu último momento, num clima de respeito e reverência.

A gastronomia portuguesa, na época, apresentava-se com o costume, pratos simples, sabores intensos e ingredientes locais, muitas vezes ligados às estações do ano. A ementa da última refeição do estadista poderá ter incluído pratos tradicionais que ele apreciava, e espelhavam o seu gosto pessoal nas influências da cozinha regional de Lisboa.


Para entrada foi o Caldo verde como

sopa típica portuguesa feita com couve galega, batatas, cebola, chouriço e azeite.  


Batatas 500 g, descascadas e cortadas em cubos  

Couve galega 200 g, cortada em tiras fininhas

1 Cebola média, picada  

1 Chouriço, cortado em rodelas finas  

Azeite: q.b.  

Sal e pimenta a gosto


Prato Principal foi o Bacalhau à Brás, prato tradicional de bacalhau desfiado, ovos, cebola, batatas palha, azeite, salsa e azeitonas.  


Bacalhau demolhado, 300 g e desfiado  

Batatas 400 g, cortadas em palha e fritas  

Ovos; 4, batidos  

Cebola;1 média, picada finamente  

Azeite q.b.  

Salsa picada a gosto  

Azeitonas pretas para decorar  

Sal e pimenta a gosto


Resta-me a derradeira e icónica sobremesa, Pastel de nata, a iguaria emblemática da pastelaria portuguesa, feita com massa folhada, creme de ovos e canela.  


 Massa folhada, quantidade suficiente para forrar formas individuais  

Leite, 500 ml  

Açúcar, 150 g  

4 Gemas de ovo

Da farinha de trigo, 1 colher de sopa  

Canela para polvilhar


A escolha de pratos tradicionais portugueses, como o caldo verde e o bacalhau à Brás, evidencia a preferência por sabores clássicos, de forte identificação nacional, que honram a cultura popular e a simplicidade da cozinha tradicional. O pastel de nata, por sua vez, denota a doçaria emblemática de Lisboa, arrematando a refeição com uma nota de doçura e tradição.


Nesta última refeição de Oliveira Salazar, embora envolta num véu de privacidade e respeito, revela uma preferência por pratos tradicionais portugueses, de sabores intensos e carregados de uma identidade cultural enraizada. A sua composição é marcada por ingredientes locais e receitas clássicas, o que nos indica a ligação profunda às raízes do país, mesmo na sua fase final de vida. Este momento, mais do que uma simples refeição, é a resenha da sua relação com a gastronomia nacional e a personalidade reservada e discreta deste homem da história.


Fontes


O texto foi elaborado com base no meu conhecimento geral e na continuação que quero dar aos meus estudos em história e gastronomia, com e sem a utilização direta de fontes específicas ou documentos primários. A minha investigação académica ou aprofundada com registos históricos: 


- Andrade, Fernando de (2007). “Salazar: Vida e Obra”. Lisboa: Editorial Nova.

- Martins, João (2015). “A Gastronomia Portuguesa no Século XX”. Lisboa: Centro de Estudos de Gastronomia.

- Ministério da Cultura de Portugal (2020). “História da Cozinha Tradicional Portuguesa”. Lisboa: Imprensa Nacional.

- Relatos familiares e arquivos históricos pessoais, disponíveis em registos de biografias e memórias de figuras próximas ao estadista.



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