Lisboa (a minha terra natal), capital de Portugal, têm como destaque na sua doçaria as trouxas de ovos moles, iguaria que o escritor Eça de Queiroz escreveu nos Maias (1845/1900:328), referindo-se aos ovos moles, doce tão popular:
«... com o meu cartucho de ovos, lá fui subindo, melancolicamente, ao lado do Dr. Margaride, a Rua Nova do Carmo...» .
Não se sabe a sua origem nem o seu nascimento exato, pois em Aveiro e nas Caldas da Rainha também usam este doce como tradição.
A história dos Ovos Moles tem origem conventual no século XVI e terá sido no Convento de Jesus de Aveiro que nasceu o início da receita contada pela Confraria dos Ovos Moles.
Trouxas de ovos
Os ovos, fidalgos no receituário, como sobremesa requintada e cara, é sobretudo consumida em ocasiões especiais. Por isto, há que comparar humildemente a cornucópia, na sua beleza e forma.
Doce em rolo num estádio superior, ou evolutivo, coincidente ou não, o certo é que a espiral, o “golden Ratio”, uma beleza divina, está em sintonia num casamento perfeito com a Cornucópia como comandante do prazer. As trouxas de ovos são preparadas com ovos e açúcar. Têm o aspeto de rolos amarelos brilhantes, mergulhados numa calda de açúcar.
Maria de Lurdes Modesto, deixa-nos a receita completa, com a melhor delicadeza e tão genuína, que algum mestre pode apresentar, registado no Acervo (Accp) “Cozinha Tradicional Portuguesa”. Fica a receita:
“30 Gemas de ovos; 250g de açúcar pilé; 120g de água; açúcar queimado q.b.
Tomam-se as gemas dos ovos e tiram-se-lhes as películas que as cobrem. Faz-se uma calda de açúcar em ponto de espadana deita-se num tachinho pequeno destinado a produzir a membrana que há-se constituir cada trouxa. Com uma colher ou um copinho deitem-se no pequeno tacho, onde a calda deve ferver em lume branco, a porção correspondente a duas gemas, as quais naturalmente alastram e coalham; tira-se então com uma escumadeira para cima de uma rede e deixa-se esfriar. Depois de frias, embrulham-se formando trouxas e envolvem-se em açúcar queimado ou tostam-se com um ferro quente ou com um maçarico. Em vez de fazer a calda, pode empregar-se o xarope simples que haja de reserva.” Maria de Lurdes Modesto
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