Querida Manuela,
Sei que estás bem, pois hoje vi fotos tuas giríssimas.
Vejamos hoje para onde vai a imaginação, tantos assuntos que gostava de falar.
Escusado será dizer que as cartinhas enviadas são criadas por laivos de imaginação na 1a pessoa, mas em tempos antigos escreviasse na 3a.
As mensagens funebres, Romanas por exemplo,eram epigrafias fabulosas.
O Prof. Dr. Armando Redentor exibe um verso arrepiante de um pai que perdera o seu filho jovem, está exposto em Idanha-a-Velha;
"Pubertatem ingressus, nec tristem mortem timeo, Ancetus, Celti filius, brevem Fatum explevi meum. hic iaceo; hic, cinis, requies."
"Entrando na puberdade, e sem ter medo da triste morte, eu, Anceito, filho de Célcio, cumpri o meu breve destino. Aqui jazo; aqui, cinzas, reposai." - Museu Epigrafico de Idanha-a-velha
Linda homenagem e arrepiante. Fico muito emocionada com o Luto deste pai romano.
Um assunto pouco defendido entre todas as ciências. E na gastronomia?
Poucos falam nos banquetes fúnebres, no alimento que acarinha a dor e atenua a lembrança dos seres que partem através do sabor. Reune-se familiares e amigos, fazem exéquias com gargalhadas e choros, relembrando pontos comuns. Mas do pão e da partilha do alimento na vida dos que vão é ultrapassado por todos os indivíduos.
O alimento do ego, o alimento da alma, o pão da dita comunhão.
O laço da alma através do pão, a união dos singulares vivos que se guardam e castigam na água e sumo da Terra (vinho) é a formação de uma nova forma de disseminação que se deixa ultrapassar pela falta de comunicação.
A construção da individualidade está na partilha do pão.
Pão para o luto, o alimento desinteressado.
Porque será que quando existe sacrifícios ou penitências se corrige com a alimentação?
Bom, entrego à conversa outra receita que trará alma aos que ficam e com os fumos (canal de comunicação) se convence quem parte que é seguro elevar-se aos céus.
Pão de segurelha
1000g de farinha de trigo
15 g de fermento de padeiro
Sal, segurelha
50ml de azeite
300ml de água
Colocar a farinha numa maceira, com as mãos fazer um buraquinho no centro colocar o fermento padeiro seco, o sal e um pouco de água morna. Diluído, junte o azeite e misture com a farinha e a segurelha, amasse com a restante água.
Deixe descansar e levedar até que dobre o tamanho. Dívida em pequenas porções e deixe descansar novamente.
Agora, espalhe a massa até ficar com a grossura de um dedo, pique com os dedos ou um garfo e leve ao forno de lenha já bem quente. Por ser finamente espalmado é rápida a cozedura.
Depois de cozido o pão, pincel generosamente com azeite e umas pedras de sal.
Alivie a dor e assegure-se que vê refletida "Neles" o sabor da partida de alguém com a alma cheia de amor!
Comer e beber na vida e na morte.
Beijinho
Chefe Maria Caldeira de Sousa
Gosto de a ler.
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