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ser feliz e desenhada por palavras de bloguers " contos alfacinhas"

O que se diz sobre a "chefe Maria Caldeira de Sousa  comi como um Romano

"O que vão aqui comer hoje é uma viagem pela história. Esta é comida de memória, comida que mexe com o vosso ADN.” Foi assim que nos recebeu a chef Maria Caldeira de Sousa, no seu Casa da Velha Fonte. Em Idanha-a-Velha, com a mesa posta debaixo da amoreira centenária que dá nome ao restaurante, Maria mostrou-nos como contar o passado através da comida. Gastrónoma e mestranda de História, Maria é uma apaixonada pelo século I a.C. O seu estudo dos receituários de Apício, romano nascido por volta de 25 a.C., serve de inspiração aos pratos que desenvolve com produtos endógenos da região, cuja história está também intimamente ligada aos romanos. 
Quem vê Idanha-a-Velha hoje, não lhe adivinha a importância passada. Há que saber “ler as pedras”, prestar atenção ao que nos dizem, como nos mostrou também Maria enquanto falava entusiasmada das escavações arqueológicas que iria acompanhar na semana seguinte...As receitas de Maria, como as pedras da aldeia, acompanham esta evolução. Tal como a Torre dos Templários que foi construída sobre o podium do fórum romano, as paredes do anfiteatro romano que se misturam com as das casas agrícolas já do século XX ou as várias reconstruções da Sé, os ensinamentos de Apício são adaptados aos produtos de hoje e são recuperadas também as tradições gastronómicas dos habitantes da aldeia e da região, com quem Maria conversa.

Esta não é apenas uma viagem ao passado, é um desenrolar dos séculos até ao presente, feito com amor e respeito à terra e aos produtos da região, a maioria em produção biológica.

Mas vamos então à degustação. Começámos com uma mesa farta de entradas. O típico pão casqueiro, que continua a ser cozido no forno comunitário a partir da massa-mãe, sem fermento. A bica de azeite, amarela, espalmada, resultado da tradição judaica da região, emparelhada com uma taça de azeite aromatizado com anis em cima de uma tábua de madeira. Numa ardósia alinhavam-se um queijo de ovelha curado da terra, cremoso no ponto certo para comer à fatia, uma chouriça da Covilhã e um raminho de cenouras. As azeitonas temperadas eram gulosas e as cerejas frescas, uma surpresa nas entradas, ajudaram a abrir o apetite. Para além do palato, o bom gosto sobressaía na apresentação. “Os romanos idolatravam o belo” disse-nos Maria com um piscar de olho.

Nos pratos principais, que são servidos em frigideiras de ferro, com doses generosas para duas pessoas, começámos com o Pato Apício. Pernas tostadas, espetadas com um camarão inteiro e molho de garum. Numa outra frigideira, costeletas de cordeiro acompanhavam umas impressionantes migas micológicas. Sim, assim mesmo. Ainda que as costeletas estivessem óptimas, a estrela foram as migas, ricas em vários tipos de cogumelos, cremosas e pontuadas por espargos verdes crocantes. Era difícil acreditar que nada tinha sal, tal era a profusão de sabores de todos os pratos. Não foram só os portugueses que trouxeram especiarias do oriente. Muito antes, também os romanos sofriam influências do seu vasto império e das trocas comerciais. Essas influências chegaram também à cozinha e Apício era fã de ervas aromáticas e medicinais. 

Para sobremesa, o Pudim Egitanea. À vista desarmada, parece um “simples” pudim flan. Mas a receita antiga esconde ingredientes especiais. O leite é de ovelha, está aromatizado com zimbro e é adoçado apenas com mel. Uma delícia.

Saímos do almoço em passeio pela aldeia com a arqueóloga Patrícia, já a rebolar de tanta comida. Mas há muito mais para provar. Codornizes à Romano, Pato Assado Visigótico, “Polypus” Confúcio foram alguns dos nomes que me saltaram à vista, na lista escrita na parede da sala. A lista de sopas tinha 11 entradas, que deixam vontade de voltar em dias de outono fresquinhos.

Por motivos pandémicos e para poder prever as quantidades, é preciso reservar mesa. Mas, por princípio, não se recusa comida a ninguém. Às vezes já estourados, em fins de tarde de muito movimento, ainda vão preparar qualquer coisa para viajantes desprevenidos. “Não sai daqui ninguém com fome”. Apesar de não ser da terra, nota-se em Maria o amor ao lugar onde escolheu vir viver com o marido, Rui Sousa, que trata da sala, e o filho. Diz no seu blog “Ao fim destes 5 anos de mudança saliento que todos os dias me considero mais Idanhense, mais Beirã, sem perder o rasto da minha identidade e ADN genético.(…) Tudo isto se passa como se de uma receita gastronómica se tratasse, agora aquece o azeite, agora esfria com o vinho e por fim degusta com pão. A Tríade perfeita. Eu sou desta terra.” "






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Sensacionais

RECEITA de uma análise positiva

 Mas não sou eu que importo... Dia 9 de Dezembro de 2020, o dia em que troquei as queimaduras do fogão por um teste positivo ao vírus SARS-COV 2. Não podia ter acontecido, como?  Questiono-me muitas vezes como falhei, Mas a resposta foi sempre a mesma; permissiva e a falta de consciência alheia. Fechei o meu estabelecimento, disse não a tantas reservas, chorei cada vez que negava aquilo que mais gostava de fazer, Cozinhar, chorei porque contagiei o meu marido e o meu filho (que responsabilidade, meu Deus), Chorei pq não tenho forças para estudar (que frustração) e ainda tenho que ser grata por estar viva... Estou em casa fechada há 38 dias, doente, sem faturas e 2 "safts" (para quem entende, isto dói!), os sintomas foram imensos e graves, mas ainda tenho que mostrar gratidão por nada ser respiratório (até agora).  O Covid19 bateu-me á porta sem perguntar se podia entrar. E andam por ai todos a passarinhar. Uns bebem vinho pelos botecos que restam abertos, outros fazem fogueir

Ovos verdes na Merenda

O reconhecimento que aqui se escreve é, sem dúvida alguma, a relação histórica de várias civilizações maquilhada pela tradição na partilha do povo. Um apontamento com força suficiente para chamar a atenção às novas cozinhas e manter a distinção desta cozinha de costumes. Em Idanha-a-Velha, outrora Civitas Igaeditanorum datada do século I a.C., com uma carga histórica entre muralhas preservadas até aos dias de hoje, ás suas ruínas dedico-lhes o ovo , alimento que havia em todas as casas. A acompanhá-lo, as ervas das hortas, preparando-o para as merendas de festa: Ao tratares as tuas galinha tal qual Apício , Marcus Gávio, alimentando-as com o alimento proveniente dos recursos naturais da natureza, terás os melhores ovos do Império. Escutando Doutorados em Zoo-arqueologia, fico atenta e consciente que nesta nossa Aldeia, Idanha a Velha, já os Romanos comiam ovos com ervas!!! [adoro quando não acrescento, mas sim relembro e registo!!!] Ovos verdes  - Para levares na merenda, primeiro tens

Dióspiro com Feta

 Inspirada na mitologia grega, o alimento de Zeus, brindo-vos com mais uma das minhas receitas; Lava sem magoar este  fruto tão especial. Corta os topos do dióspiro e reserva. Com uma colher de chá retira o interior (scoop) e reserva numa tigela, junta ao puré de diospiro, mel, amêndoas, vinagre balsâmico e queijo feta (eu prefiro com feta pois considero o queijo dos deuses), e carinhosamente mistura muito bem, prova e adoça a gosto. Com a vareta acaricia a mistura, e pensa na festa. Usa a mistura para encher (refill) os diospiros e deixa descansar por 30minutos. O empratamento fica a teu gosto.  Excelente para vegetarianos e neste Natal surpreende, esta seria a entrada de Natal no meu restaurante para os vouchers que vinham a caminho ♡

Bolo de cenoura

Inspirada na origem geográfica Judaica, apresento-vos o meu Bolo de cenoura em entrega á Aldeia Histórica de Belmonte a mais judaica das gémeas 12. A culinária judaica é uma das mais saborosas e tradicionais que se têm registo, no entanto, pouco se modificou no decorrer de séculos de história em sua formação cultural. Originalmente, essa cozinha enfatizava os sete elementos bíblicos citados no Deuteronómio: a cevada, o trigo, a azeitona, o figo, a romã, a tâmara e as ervas. E há alguns milênios atrás, as comidas eram rústicas, elaboradas pelas mãos de camponesas judias, que foram transmitindo as receitas oralmente para suas filhas, como uma das formas de manter a identidade e a união de um povo escolhido. Optei pela religião na escolha de receituário gastronómico, pois a culinária reflete história, hábitos e costumes de seus comensais. Quando pensamos na comida judaica, que se adaptou às necessidades de seu povo no decorrer da história entendemos a veracidade de ambas. Quando os roma

(Re) pizza

 Podia comer-se somente com azeitonas, como gosto tanto... Num pequeno monte (quase imaculado por proximidade) feito de pedras e oliveiras conheci uma mãe, nascida sobre o signo de leão, em data especial para mim, 15 de Agosto. Uma mulher conhecedora do mundo, mãe de dois filhos e douta de dedicação familiar. Jamais pensaria escrever sobre esta Mãe se não me tivesse acrescentado conhecimento na vida.  Em 7 anos de aprendizagem com Clarisse Ferreira Calado ( sem autorização de a mencionar, mas não consigo resistir) tive o prazer de vivenciar a vida desta aldeia "Serra de Santo António", apaixonei-me nas pedras e pelas pedras, apaixonei-me pela água que ali não corria, as pessoas que toquei e que ainda hoje passam por mim, tempo de aprender os costumes que hoje servem de tinta nas minhas mãos. Clarisse, manipulava os alimentos na sua cozinha de campo, um ritual, no Inverno acender pela manhã na antiga lareira e de alpendre. O bacalhau já demolhado de véspera esperava as brasas

Sopa de Feijão do Rosmaninhal

Rosmaninhal - onde  dogmas   são   transmitidos   de   geração   em   geração  influenciando a p assagem   periódica  de rebanhos da Serra da Estrela e das varas de porcos vindos do Alentejo. Marcada região de Idanha a Nova e quase deserta nos dias de hoje podemos assistir em silencio a beleza do parque Natural do Tejo internacional, avistando aves e veados. A sua envolvencia é entre as gentes das Cegonhas, Couto Dos Correias e Soalheira. Fora Vila em 1510 a 1836, hoje quase despovoada mas com muito cheiro a tradição. Podia falar do cordeiro e do queijo que marca esta Aldeia com grande requinte, mas não. Trago-vos a sopa de feijão, tão rude como o rosmaninhos que percorrem os caminhos e a pureza de quem lá vive. Junto de gentes antigas que tive o prazer de conversar, para cozinhar esta  sopa devemos usar o feijão  redondo (muito usual nesta Beira interior raiana)  dizem que fica com o " molho mais grosso" [caldo consistente] .    Demolhar o feijão em água fria de um dia para

Marmelo ancestral em paz e amor - Idanha a Nova

 [GOLDEN APPLE, diziam os gregos] Em meados do século VIII, durante o período medieval, trazido pelos árabes. O marmelo começa a ser cultivado em diferentes regiões da Europa. No entanto, foi somente no século XVIII que o marmelo se popularizou na Inglaterra, onde era consumido principalmente na forma de geleias e doces. Atualmente, o marmelo é amplamente cultivado em países como Portugal, Espanha, Itália, França e Grécia,  muito usado tanto na culinária quanto na produção de cosméticos e medicamentos. Os reis da Europa medieval consideravam o marmelo uma das frutas mais nobres e valiosas devido ao seu sabor exótico e raro, além das propriedades medicinais que lhe eram atribuídas. O marmelo era frequentemente oferecido como presente entre a nobreza e era um ingrediente muito apreciado na culinária refinada da época. Na medicina medieval, o marmelo era utilizado para tratar diversas doenças, principalmente problemas gastrointestinais. De acordo com crenças populares, o marmelo também ti