Piedade, piedade popular
Os cantos alimentam a alma como se de alimentos se tratasse. Nestas terras entranhadas estão as primitivas religiões, de longe nos séculos, que se fazem perdurar nas vozes das mulheres.
Os nossos antepassados rogavam as almas pela germinação e fecundação das suas sementes, terminado o Inverno. Cultos pagãos que nos fazem viajar na história. A Alta Idade Média oferece-nos a tradição dos dias de hoje, onde o culto aos mortos é celebrado pedindo a intercessão de Deus a favor das almas sujeitas a penas do purgatório, de forma a alcançarem o céu.
A encomendação das almas é um dos cantos de piedade popular, genuíno e português, e segundo Catana (2005) não conhecemos nenhum outro povo que o cante.
Durante a Quaresma, altura do renascer das plantas, pequenos grupos de homens e mulheres do mundo rural unem-se e continuam no alto das povoações da Raia Beirã a dar vida aos cantos de piedade, a “Encomendação (Amentar) as almas”.
Mesmo que outrora tenham migrado para Lisboa ou outras localidades em busca de pão, a população quando volta reata com desejo a tradição e mantém o canto popular acordado desde a Idade Média. Às sextas-feiras da Quaresma, até mesmo na Semana Santa a Encomendação sai às ruas, quebrando o silêncio da noite, para que possa ser ouvido nas dezasseis freguesias do concelho.
A piedade soa em vozes de mulheres entre o som do sino, tornando inquieto o sono da aldeia. Uma emoção que sufoca de amor a alma e o coração e “Ele” escuta-as lá no alto, e ao mistério, para afastar o medo. Hoje chamam-lhe Eco.
Fig 6 - Encomendação das almas Ladoeiro (registo pessoal).
Na Páscoa, revivendo a mensagem de “Desejo e Perfume- Folar de Idanha a Nova ” deste blogue, mata-se o borrego, tradição que vem de longe, dos costumes religiosos assentes no cristianismo e no judaísmo, sendo o animal o símbolo da libertação. Ainda nos dias de hoje, como refere Longo (2013), a Rota da Pastorícia centrada nesta região tem grande importância em Idanha a Nova.
Ensopado de borrego - Limpe o borrego de gorduras e corte-o em pedaços. Faça um refogado com cebola, alhos picados e 2 dl de azeite. Deixe bringir um pouco e adicione o tomate pelado picado, o colorau, as folhas de louro, o piri-piri e a carne. Envolva tudo, regue com o vinho tinto e com o branco e tempere com sal a gosto. Tape o tacho e deixe cozinhar durante uma a duas horas, dependendo do tamanho (idade) do borrego.
O amor partilhado têm mais amor!
Trabalho académico Mestrado Historia da Alimentação- Gastronomia Maria Caldeira de Sousa U. Coimbra 2019/2020
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