Neta do Mar


Maria Caldeira de Sousa 

Chefe de cozinha Histórica 


Dou por mim a analisar a vida de um pescador, esta pode variar muito, dependendo do local onde ele trabalha, do tipo de pesca que pratica e das circunstâncias individuais. Geralmente, a vida de um pescador é caracterizada por desafios, trabalho árduo e uma conexão profunda com o mar ou corpos de água onde a pesca é realizada.

O dia a dia de um pescador começa cedo, antes do amanhecer. A rotina na  preparação de seus equipamentos, verificação do clima e as condições do mar até  se deixarem levar pelos seus barcos de pesca. O dia de trabalho é longo, muitas vezes de "sol a sol" , dependendo da quantidade de peixes que pretendem. Durante a jornada, os pescadores lançam redes, armadilhas ou linhas de pesca e esperam pacientemente pelos peixes. Tarefa que se  repete inúmeras vezes ao longo da semana, assim como na demanda e nas oportunidades de pesca.

As histórias que me lembro de serem contadas sobre os pescadores [bisavós, avós, tios e primos] reportam às condições de trabalho difíceis e perigosas.Enfrentam o mau tempo, ondas fortes, temperaturas extremas, períodos prolongados de isolamento e desgaste físico. Além disso, a pesca é uma atividade sazonal, e resiliência destes homens vulneráveis às mudanças de sazonalidade e migração de peixes para continuação do sucesso em suas pescarias e nas nossas mesas.

Diferentes métodos de pesca, dependendo do tipo de peixe, incluem a pesca com rede, pesca com anzol e linha, pesca com armadilhas ou gaiolas, e pesca com redes de arrasto. Cada método de pesca requer habilidades específicas e conhecimentos sobre o comportamento dos peixes, o ecossistema marinho e as regulamentações de pesca.

Em muitas comunidades costeiras, a pesca é uma parte essencial da identidade cultural e económica. Os pescadores frequentemente seguem tradições transmitidas ao longo de gerações, e a pesca desempenha um papel importante na culinária local e nas festividades. Além disso, muitos pescadores têm um profundo respeito pelo meio ambiente e estão envolvidos em esforços de conservação para garantir a sustentabilidade dos recursos pesqueiros.

A vida destas gentes de mar pode ser desafiadora em diversos aspectos. Além das condições adversas, os pescadores enfrentam incertezas quanto à captura, flutuações de preços, regulamentações políticas e concorrência. No entanto, a pesca também pode ser uma ocupação gratificante. A sensação de liberdade e conexão com a natureza. 


Receituário tradicional piscatório de Vagos


Chora -  (o caldo do povo a chorar o mar)


1 cebola

1 dente alho

1 folha de louro 

1 cravinho 

Azeite

Pimento vermelho

1 colherinha de Colorau

1 malagueta piri-piri 

Coentros

Ventrechas do melhor peixe que não se vendeu

Berbigão 

1/2 copinho de vinho branco

Água 2 copos 

Massa milaneza cotovelo grosso 

Sal


Refogue a cebola picadinha em azeite, junte-lhe os restantes ingredientes, deixe apurar, coloque o pescado e o berbigão e o 1/2 copinho de vinho, acrescente água e cozinhe por 5 minutos. Retire o peixe, o berbigão e reserve. Coloque a massa, deixe cozer. Recoloque o peixe e o berbigão, embeleze com coentros e sirva quente.


Eu neta de gentes de Mar [Peniche], largo aqui as memórias do meu registo genético noutros litorais.


Agosto 2023

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